sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

Orgulho que não se mede.

Para: Rebeca Galle, Fera Medicina UFPE 2012.


Superar:
v.t. Superar a expectativa. Vencer, subjugar, dominar, dobrar: superar a resistência do adversário.
Fazer desaparecer, remover, resolver: superar todas as dificuldades.


Passar no vestibular de medicina, na federal, de primeira, com 17 anos, estudando em uma escola "não popular".


Eu nunca vou esquecer o começo dessa jornada - longa e curta ao mesmo tempo -, um dia antes de você iniciar suas aulas na escola. As minhas haviam sido adiadas para a outra semana, e eu não precisava dormir cedo naquele dia, me obrigando a ir desligar a internet no seu quarto. Lembro claramente de ter entrado em silêncio e de ter congelado quando vi sua pequena forma adormecida, tão em paz que durante um minuto inteiro eu fiquei apenas observando, pensando no longo e nada pacífico ano que você teria pela frente, a partir do dia seguinte. Memórias do meu próprio ano de vestibular invadiram a minha mente e relembrei o meu primeiro último dia indo para escola. A sensação de vazio. A sensação de não querer que o ano acabe, mas precisando ao mesmo tempo desesperadamente que ele apenas termine: sem mais provas, aulas e notas (e se tudo der certo, um bom resultado). Me recordo também de ter afastado aqueles momentos, realizando que o seu seria incomparavelmente mais difícil, mas rezei que tivesse o mesmo resultado final. Então dei um passo a frente, cautelosamente me aproximando da sua cama e me inclinei, dando um beijo na sua bochecha e desejando silenciosamente que você tivesse sucesso e mais importante, que não desistisse no meio do caminho, que aguentasse firme, porque o destino final valeria a pena.


E durante todo os dias em que testemunhei sua luta, você nunca deu um sinal sequer de que ia abandonar tudo e esquecer a escolha difícil que havia feito. Tudo que vi era uma estudante exemplar: você não faltou as aulas; não dormiu até tarde nos fins de semana e feriados, nem mesmo quando dormir provavelmente era a única coisa que dominava sua mente; rejeitou convites de aniversários e saídas; ignorou todos os livros de ficção que você daria tudo para pegar um deles, deitar na cama e passar a tarde toda lendo, sem nenhuma preocupação além de se concentrar na trama da história; esqueceu vários seriados que você costumava acompanhar religiosamente. E em nenhum dia, em nenhum segundo, você reclamou. Você apenas seguiu em frente, dia após dia, aula após aula, assunto após assunto. E de longe, te observando e morrendo de saudades de todos os momentos que tínhamos juntas e que esse ano não era possível, eu te admirei tanto. Pela tua certeza, pela tua calma, pela tua força e persistência. E me orgulhei, muito antes de resultados e notas, pela pessoa que você é.


Passaram as 'férias' de julho, a abertura dos jogos (Sininho! *_*), o ENEM, a missa, o baile de formatura, os três dias da UPE, a segunda fase da federal e... FÉRIAS! Eu te contei como me senti quando as minhas chegaram em 2007 e o que eu fiz naquele dia e consigo imaginar um pouco do seu alívio de, pelo menos, naquele ano, ter terminado. Independente de qualquer coisa, daquele dia em diante, você estava livre para fazer o que bem entendesse: ler um livro, assistir um seriado, msn, sair de casa, DORMIR. Qualquer coisa. Restando agora apenas a espera. 


No dia 30 de dezembro de 2011, uma delas terminou: a UPE divulgaria seu listão às 10hrs na reitoria e às 12hrs na Internet. O dia começou com todos reclamando com esse disparate no horário das divulgações, entretanto entre 10h30 e 11h, Breno conseguiu acessar a sua nota individual pela internet, e... Não tinha dado. Não daquela vez. Você chorou. Eu chorei. Mainha chorou mais do que todo mundo junto. O ano estaria terminando no dia seguinte e longe de como sonhávamos. Respiramos fundo, enxugamos as lágrimas, levantamos a cabeça e seguimos em frente. 


Seguimos até o dia 12 de janeiro de 2012: o SEU dia. 9h30 o despertador me acordou, mas meu cérebro só me permitiu sair da cama às 9h55 para não encontrar meu notebook no lugar dele. Já estava com painho, na página exata onde apareceria o listão em alguns minutos. Sonolenta, voltei para o quarto, peguei o netbook, o coloquei no colo e deitei na cama, a página certa também engatilhada e pronta para procurar seu nome. Não sabia se você estava dormindo, acordada, com o pc ligado ou não, só precisava ver logo mais esse resultado. Minutos depois de espera, atualizei a página do Diário de Pernambuco e já estava lá: CONFIRA LISTÃO DA UFPE. Cliquei. Grupo 4 - Medicina. Clique. Desci a página, percebi que estava em ordem alfabética e fui até o R, encontrando uma RebeKa na primeira entrada que fez meu coração parar por um milésimo de segundo. Continuei descendo a página, indo checar a segunda entrada, o coração já se partindo outra vez, mas com aquela esperança que insiste em ficar ali presente, sussurrando que 'continue, talvez seja agora'. 


E era. Porque ali estava seu nome: REBECA CAVALCANTI GALLE DE AGUIAR. Reli seu nome, empurrei o netbook em cima da cama na mesma hora que painho percebeu a mesma coisa: VOCÊ TINHA PASSADO! Corri até metade da sala, as palavras saindo sem eu controlá-las: "Rebeca passou! Rebeca passou!". Entrei no seu quarto e te encontrei dormindo, como lá no começo, mas dessa vez não perdi tempo parando e te observando, avancei, pegando teus ombros e te chacoalhando, repetindo o que parecia sair de um sonho: Passasse, Rebeca! TU PASSASSE! TU PASSASSE, P****! Tua expressão foi uma mistura de confusão e descrença, mas você também não perdeu tempo, levantado-se e indo até a sala comigo, onde reencontramos painho e o vimos com lágrimas nos olhos, o abraço triplo apertado e que nunca será esquecido. Ah e mainha? Mais feliz que todos nós juntos!

Cada ligação, cada 'parabéns', cada 'curtida', cada sorriso, cada lágrima, cada noite mal dormida, cada livro renegado, cada seriado atrasado, cada recado, cada visita, cada sacrifício que você fez te trouxe aqui: FERA MEDICINA UFPE 2012! E se eu tava orgulhosa e te admirava antes, imagina hoje!



PARABÉNS DE NOVO, LITTLE SISTER! Te amo muito!

Da sua irmã coruja.

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